14/08/2006

Carvão, energia para o futuro

De combustível do passado, o carvão passou a ser importante alternativa energética para o futuro. Diante deste novo cenário, empresas do segmento acabam de criar a Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), presidida pelo diretor executivo do Sindicato das Indústrias do Carvão de SC (Siecesc), Fernando Zancan (foto). Os vice-presidentes são Aldo Meneguzzi, da Companhia Rio-Grandense de Mineração, e José Laydner, da Tractebel.

O objetivo principal da entidade é estruturar ações pela sustentabilidade e expansão da cadeia produtiva carbonífera. Com modernas tecnologias, que garantem energia limpa, o carvão voltou a ser o combustível prioritário de vários países do Primeiro Mundo.

Na entrevista a seguir, Zancan, que é engenheiro de minas com pós-graduação no Japão, fala sobre novas perspectivas para o setor em SC, no Brasil e no mundo.

UM EXEMPLO

- Há poucos dias, eu estava em Brasília e um ex-ministro do atual governo perguntou se havia trabalho infantil na extração de carvão mineral. Esse tipo de pergunta é feita porque há uma ligação muito forte de trabalho infantil com carvão vegetal. Porém, a cadeia produtiva do carvão mineral segue normas trabalhistas rígidas, é toda legal, com carteira assinada, uma pessoa não pode baixar mina com menos de 21 anos. Nós somos um exemplo para o Brasil em termos de cumprimento de normas trabalhistas.

SUSTENTABILIDADE

- Entre os objetivos da ABCM estão planejar e estruturar as ações da cadeia produtiva, de mineração e geração de energia a carvão mineral, visando a sua sustentabilidade e expansão. Se propõe, também, a difundir a energia gerada à base de carvão mineral, acompanhar as ações do Legislativo e Executivo de interesse da cadeia produtiva, coordenar as ações de cooperação internacional e de desenvolvimento tecnológico.

PLANEJAMENTO

- Em 1994, fiz curso no Japão sobre tecnologia de carvão e, na minha apresentação final, escrevi que ele é o combustível do século 21. Mas, naquele mesmo ano, um diretor da Eletrobrás afirmou que o carvão entraria no planejamento em 2006 a 2007. Passados 10 anos, está confirmada a previsão dele. O que parou de 1994 para cá foi o planejamento, que foi retomado, agora. Já saiu o plano energético para 2015 e em outubro será discutido o de 2030.

TODAS AS FORMAS

- O Brasil vai precisar de todas as formas de energia elétrica em 2030, incluindo as domésticas e, talvez, alguma coisa importada. Então, tem espaço para o carvão. Qual é esse espaço? Está sendo discutido no plano de 2030. Não podemos viver somente de energia eólica. Em 2000, diziam, na Europa, que o carvão era um combustível do passado. Em 2005, concluíram que seria a energia do futuro, porque oferece a segurança da base fóssil. Na França, há o renascimento da geração nuclear e do carvão. Na Alemanha, país que está fechando todas as usinas nucleares, 52% da energia vem do carvão. No Brasil, em 2005, 85,4% da geração era hidráulica, e apenas 1,6%, a carvão.

NO CONE SUL

- Exportamos energia térmica para a Argentina em 2004 e agora ela enfrenta racionamento, novamente, por falta de investimentos na geração térmica. Este ano, estamos exportando para o Uruguai e enfrentamos, também, seca mais grave na Região Sul do Brasil, problema que está sendo suprido, parcialmente, com a geração da térmica a carvão Jorge Lacerda. O Cone Sul está com problemas de energia e o carvão brasileiro está suprindo boa parte dessa necessidade.

PROJETOS

- Temos, no RS, duas térmicas a carvão em construção e mais duas com projeto ambiental aprovado. Em SC, temos o projeto da Usitesc, que aguarda aprovação ambiental. A geração a carvão, hoje, no país, é de 1.414 MW e teremos mais 1.800 MW até 2011.

MUITA COISA

- Do carvão se faz muita coisa: tratamento de água, produção de coque de fundição, metalurgia, ferro-liga. Mas o principal uso, de quase 95% em SC, é para a geração de energia elétrica na térmica Jorge Lacerda, da Tractebel. Este ano, o setor já vendeu 150 mil toneladas a mais, além das 200 mil/mês. Se chover no Sul agora, podemos reduzir o consumo interno e gerar para exportar à Argentina e Uruguai.

COM A VALE

- O Brasil importa em torno de 13 milhões de toneladas de carvão metalúrgico e a siderurgia nacional vai duplicar. Diante desse crescimento de demanda, a Vale estuda um projeto grande de carvão metalúrgico na Austrália e outro em Moçambique. Ela tem consultado a gente visando apoio tecnológico de Criciúma para esses projetos.

COM A PETROBRAS

- A Petrobras estuda parceria conosco para desenvolver projeto de produção de metano, que está nas camadas de carvão. A intenção é montar uma unidade piloto em Criciúma. Esse projeto teria por trás um centro tecnológico, que trabalharia, também, na área de gaseificação de carvão e produção de hidrogênio, o combustível do futuro.

CENTRO EM CRICIÚMA

- O governador Eduardo Moreira prometeu enviar, para a Assembléia, projeto para trazer recursos da compensação financeira da extração mineral, um royalty de 2% do faturamento líquido do setor. Desse total, 23% cai numa vala comum do Estado. Queremos trazer esses recursos para o novo centro tecnológico do carvão mineral.

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Fonte: Estela Benetti - Diário Catari

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